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According to Osborne, the economic manifestation of the classical notion of beauty is the depiction of long-run equilibrium in the model of perfect competition: ‘it is a representation of perfection - of the one outcome where the price asked for and received by sellers is equivalent to both their average and marginal cost’ (p. 5). This outcome is synonymous with Paretian efficiency, where the movement from the perfectly competitively equilibrium state of allocation to another cannot make at least one individual better off without making others worse off. As Osborne puts it, ‘within the realm of trading … perfectly competitive equilibrium is the highest achievement. It is, in other words, beautiful’*
« Il est démontré, disait-il, que les choses ne peuvent être autrement : car, tout étant fait pour une fin, tout est nécessairement pour la meilleure fin. Remarquez bien que les nez ont été faits pour porter des lunettes, aussi avons-nous des lunettes. Les jambes sont visiblement instituées pour être chaussées, et nous avons des chausses. Les pierres ont été formées pour être taillées, et pour en faire des châteaux, aussi monseigneur a un très beau château ; le plus grand baron de la province doit être le mieux logé ; et, les cochons étant faits pour être mangés, nous mangeons du porc toute l'année : par conséquent, ceux qui ont avancé que tout est bien ont dit une sottise ; il fallait dire que tout est au mieux. »**
A primeira das citações acima vem do mesmo blog mencionado no post abaixo; a segunda, do primeiro capítulo do Cândido, de Voltaire. Ambos vêm a propósito de uma discussão sobre "o apelo romântico do capitalismo". Eis um tema que sempre despertou meu interesse: como e por que o pensamento marxista e pós-marxista obteve o monopólio do humanismo utópico, do idealismo romântico, dos bons sentimentos e do politicamente correto em geral? Quando é que passou a ser verdadeira aquela frasesinha supostamente espirituosa, segundo a qual quem não é de esquerda aos 20 anos não tem coração, e quem não é de direita aos 40 não tem cérebro?
Caberia uma explicação histórica. Na Praga da década de 1960, certamente não era pelos membros do PC que as meninas de mini-saia suspiravam. O apelo romântico da esquerda vem do mito da resistência, da contestação, da contracultura. No âmbito da guerra fria, nada mais natural que a "subversão" interna assumir o discurso do inimigo externo - com a conveniência adicional de que o ocidente desconhecia o que se passava por trás da "cortina de ferro", de modo que o socialismo real dos golas-rolês era quase todo ilusões. Claro que, após a queda do muro, viu-se que só havia insurgentes de boulevard onde podia haver insurgentes: nas democracias ocidentais. Mas, no fim, as virtudes polimórficas conferidas à esquerda pelos soixant-huitards limparam a ficha do marxismo, dissociando-o dos crimes do stalinismo quando já não se podia mais negá-los.
Mas essa não é toda a história. Explica por que a esquerda tem seu charme, não por que a direita é anódina. Acredito que isso se deve ao fato de que o liberalismo, a partir de certo momento, deu a disputa por vencida e assumiu um discurso de tom conservador. Nada mais absurdo: o Século XX viu o retorno triunfal do obscurantismo; a América Latina em especial, com raras e tímidas exceções - nenhuma na Bruzundanga - foi sempre governada pelas inefáveis aristocracias crioulas, trocando apenas de cor. As vitórias do liberalismo foram efêmeras e localizadas.
Reparem nos dois trechos acima, vejam o que têm em comum a fala de um economista em plena fruição estética de seu modelo teórico e a filosofia do Dr. Pangloss: o hermetismo da argumentação, declaradamente inacessível a não-iniciados; o distanciamento da realidade concreta e do senso comum; o deslumbramento com as próprias conclusões, que são um misto de verificação e imaginação. Dizer que "a manifestação econômica da noção clássica de beleza é a representação do equilibrio de longo prazo no modelo de competição perfeita" é o mesmo que maravilhar-se com o fato de que temos narizes para sustentar aos óculos.
Mas o mais curioso de tudo é que, no século XX, quem melhor representa o obscurantismo, o discurso escolástico e bizantino, é o marxismo. O liberalismo, ao contrário, baseia-se em um paradigma bem mais, digamos, nominalista - e, portanto, mais acessível ao homem comum. Afinal, o que é mais fácil explicar: a lei da oferta e procura ou a mais-valia? a divisão do trabalho ou a sua alienação? a auto-regulação dos preços ou a revolução proletária, que é ao mesmo tempo uma escolha e um destino histórico? Não que a economia seja algo simples, nada disso. Mas seus fundamentos - o tomador de decisões racional, a lei de oferta e procura, a escassez - fazem parte da experiência diária de todo ser humano , e decorrem de uma forma de pensar absolutamente intuitiva (na minha opinião pessoal, é aí que está sua beleza).
No entanto, a simplicidade revolucionária do liberalismo adotou um discurso intrincado, com aquele tom de acadêmica indiferença, ao passo que a esquerda aproveita-se toda a nossa pletora de preconceitos irracionais para tornar palatável um pensamento que beira o misticismo. Resultado: o irracional parece auto-evidente e justo; o que é racional só encontra expressão em um discurso hermético, incompreensível para a maioria das pessoas, desinteressante para quase todas.
A razão e o bom senso têm, sim, seu apelo romântico. Basta apresentá-los como tais.
*De acordo com Osborne, a manifestação econômica da noção clássica de beleza é a representação do equilíbrio de longo prazo do modelo de competição perfeita: 'é a representação da perfeição - do único resultado em que o preço pedido e recebido pelos vendedores é equivalente a seus custos médio e marginal'. Esse resultado é sinônimo de eficiência paretiana, onde o movimento do estado de alocação de equilíbrio perfeitamente competitivo para outro não pode melhorar a situação de um indivíduo sem piorar a de outros. Como coloca Osborne, 'no âmbito do comércio... equilíbrio perfeitamente competitivo é a mais alta conquista. É, em outras palavras, belo.
**Está demonstrado, dizia ele, que as coisas não podem ser de outra forma: pois, tudo tendo sido feito para um fim, tudo foi feito necessariamente para o melhor fim. Reparai bem que os narizes foram feitos para usar óculos, assim, nós temos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para serem calçadas, e nos temos sapatos. As pedras foram formadas para serem talhadas, e para delas fazerem-se castelos, assim, o monsenhor tem um belíssimo castelo; o maior barão da província deve ter a melhor morada; e, os leitões tendo sido feitos para serem comidos, nós comemos carne de porco todo o ano: por conseqüência, aqueles que afirmaram que tudo está bem disseream uma tolice; deveriam ter dito que tudo está o mellhor possível.
According to Osborne, the economic manifestation of the classical notion of beauty is the depiction of long-run equilibrium in the model of perfect competition: ‘it is a representation of perfection - of the one outcome where the price asked for and received by sellers is equivalent to both their average and marginal cost’ (p. 5). This outcome is synonymous with Paretian efficiency, where the movement from the perfectly competitively equilibrium state of allocation to another cannot make at least one individual better off without making others worse off. As Osborne puts it, ‘within the realm of trading … perfectly competitive equilibrium is the highest achievement. It is, in other words, beautiful’*
« Il est démontré, disait-il, que les choses ne peuvent être autrement : car, tout étant fait pour une fin, tout est nécessairement pour la meilleure fin. Remarquez bien que les nez ont été faits pour porter des lunettes, aussi avons-nous des lunettes. Les jambes sont visiblement instituées pour être chaussées, et nous avons des chausses. Les pierres ont été formées pour être taillées, et pour en faire des châteaux, aussi monseigneur a un très beau château ; le plus grand baron de la province doit être le mieux logé ; et, les cochons étant faits pour être mangés, nous mangeons du porc toute l'année : par conséquent, ceux qui ont avancé que tout est bien ont dit une sottise ; il fallait dire que tout est au mieux. »**
A primeira das citações acima vem do mesmo blog mencionado no post abaixo; a segunda, do primeiro capítulo do Cândido, de Voltaire. Ambos vêm a propósito de uma discussão sobre "o apelo romântico do capitalismo". Eis um tema que sempre despertou meu interesse: como e por que o pensamento marxista e pós-marxista obteve o monopólio do humanismo utópico, do idealismo romântico, dos bons sentimentos e do politicamente correto em geral? Quando é que passou a ser verdadeira aquela frasesinha supostamente espirituosa, segundo a qual quem não é de esquerda aos 20 anos não tem coração, e quem não é de direita aos 40 não tem cérebro?
Caberia uma explicação histórica. Na Praga da década de 1960, certamente não era pelos membros do PC que as meninas de mini-saia suspiravam. O apelo romântico da esquerda vem do mito da resistência, da contestação, da contracultura. No âmbito da guerra fria, nada mais natural que a "subversão" interna assumir o discurso do inimigo externo - com a conveniência adicional de que o ocidente desconhecia o que se passava por trás da "cortina de ferro", de modo que o socialismo real dos golas-rolês era quase todo ilusões. Claro que, após a queda do muro, viu-se que só havia insurgentes de boulevard onde podia haver insurgentes: nas democracias ocidentais. Mas, no fim, as virtudes polimórficas conferidas à esquerda pelos soixant-huitards limparam a ficha do marxismo, dissociando-o dos crimes do stalinismo quando já não se podia mais negá-los.
Mas essa não é toda a história. Explica por que a esquerda tem seu charme, não por que a direita é anódina. Acredito que isso se deve ao fato de que o liberalismo, a partir de certo momento, deu a disputa por vencida e assumiu um discurso de tom conservador. Nada mais absurdo: o Século XX viu o retorno triunfal do obscurantismo; a América Latina em especial, com raras e tímidas exceções - nenhuma na Bruzundanga - foi sempre governada pelas inefáveis aristocracias crioulas, trocando apenas de cor. As vitórias do liberalismo foram efêmeras e localizadas.
Reparem nos dois trechos acima, vejam o que têm em comum a fala de um economista em plena fruição estética de seu modelo teórico e a filosofia do Dr. Pangloss: o hermetismo da argumentação, declaradamente inacessível a não-iniciados; o distanciamento da realidade concreta e do senso comum; o deslumbramento com as próprias conclusões, que são um misto de verificação e imaginação. Dizer que "a manifestação econômica da noção clássica de beleza é a representação do equilibrio de longo prazo no modelo de competição perfeita" é o mesmo que maravilhar-se com o fato de que temos narizes para sustentar aos óculos.
Mas o mais curioso de tudo é que, no século XX, quem melhor representa o obscurantismo, o discurso escolástico e bizantino, é o marxismo. O liberalismo, ao contrário, baseia-se em um paradigma bem mais, digamos, nominalista - e, portanto, mais acessível ao homem comum. Afinal, o que é mais fácil explicar: a lei da oferta e procura ou a mais-valia? a divisão do trabalho ou a sua alienação? a auto-regulação dos preços ou a revolução proletária, que é ao mesmo tempo uma escolha e um destino histórico? Não que a economia seja algo simples, nada disso. Mas seus fundamentos - o tomador de decisões racional, a lei de oferta e procura, a escassez - fazem parte da experiência diária de todo ser humano , e decorrem de uma forma de pensar absolutamente intuitiva (na minha opinião pessoal, é aí que está sua beleza).
No entanto, a simplicidade revolucionária do liberalismo adotou um discurso intrincado, com aquele tom de acadêmica indiferença, ao passo que a esquerda aproveita-se toda a nossa pletora de preconceitos irracionais para tornar palatável um pensamento que beira o misticismo. Resultado: o irracional parece auto-evidente e justo; o que é racional só encontra expressão em um discurso hermético, incompreensível para a maioria das pessoas, desinteressante para quase todas.
A razão e o bom senso têm, sim, seu apelo romântico. Basta apresentá-los como tais.
*De acordo com Osborne, a manifestação econômica da noção clássica de beleza é a representação do equilíbrio de longo prazo do modelo de competição perfeita: 'é a representação da perfeição - do único resultado em que o preço pedido e recebido pelos vendedores é equivalente a seus custos médio e marginal'. Esse resultado é sinônimo de eficiência paretiana, onde o movimento do estado de alocação de equilíbrio perfeitamente competitivo para outro não pode melhorar a situação de um indivíduo sem piorar a de outros. Como coloca Osborne, 'no âmbito do comércio... equilíbrio perfeitamente competitivo é a mais alta conquista. É, em outras palavras, belo.
**Está demonstrado, dizia ele, que as coisas não podem ser de outra forma: pois, tudo tendo sido feito para um fim, tudo foi feito necessariamente para o melhor fim. Reparai bem que os narizes foram feitos para usar óculos, assim, nós temos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para serem calçadas, e nos temos sapatos. As pedras foram formadas para serem talhadas, e para delas fazerem-se castelos, assim, o monsenhor tem um belíssimo castelo; o maior barão da província deve ter a melhor morada; e, os leitões tendo sido feitos para serem comidos, nós comemos carne de porco todo o ano: por conseqüência, aqueles que afirmaram que tudo está bem disseream uma tolice; deveriam ter dito que tudo está o mellhor possível.